21 de set. de 2009

OS HEREGES



Para conquistar crescer e conquistar novos nichos de mercados as mudanças se fazem necessárias às tradicionais fábricas. No entanto, deixar a personalidade de lado nem sempre é rentável

Texto: Diego M. de Sousa -- Fotos: Divulgação

A marca que surge para ocupar apenas um nicho de mercado e passa anos respeitando o aprendizado de berço conquista clientes fiéis, exigentes e importantes.

Isso só acontece com fabricantes de produtos exclusivos, como carros esportivos ou luxuosos. Seus clientes fiéis não aceitam desobediência quanto aos “mandamentos”, principalmente o de manter-se exclusiva e interessante a eles. Qualquer produto que não respeite as leis é um “herege” e é condenado à extinção.

É mais que sabido que a Ferrari é muito tradicional. Na sua história só construiu cupês e conversíveis com, no mínimo, oito cilindros. Porém, tem um capítulo dessa história que foi arrancado pelos ferraristas: o da Dino, a Ferrari ilegítima.

Uma Ferrari com motor de seis cilindros? Não, obrigado.

A idéia era desenvolver um novo esportivo compacto e mais popular, com motor de seis cilindros. O nome da marca seria uma homenagem a Dino, apelido do filho do fundador Enzo Ferrari. A carroceria não tinha a beleza que sempre se espera de um esportivo da marca; nem o desempenho. Foi um fiasco total, tanto que caiu no esquecimento.

Na mesma Europa houve outros casos. A Lotus Elan tinha muitos fãs, pois era um carro fantástico. Leve, potente e intempestivo, era tudo de bom para o entusiasta. Só que a marca inglesa pecou ao lançar a segunda geração com um motor de tecnologia japonesa da Isuzu e tração dianteira, decepcionando os fãs. Não oferecia mais os mesmos “sabores” da versão original, nem o orgulho de ser puramente inglês.

Tração dianteira e opção pela station no X-Type não foram bem recebidos

E nem a Jaguar escapou. A marca entrou no século XXI com dificuldades financeiras. Precisava de um produto que difundisse o nome entre outros tipos de consumidor. Colocou no mercado, então, o seda X-Type, feito sobre a plataforma do Ford Mondeo, um popular de tração dianteira. Uma heresia diante da tradicionalíssima tração posterior e superioridade técnica que a Jaguar sempre carregou. Para tentar corrigir o mal foi instalada uma tração integral, também do Mondeo. Os ingleses não esperavam, entretanto, a X-Type Estate, outra heresia...

A Mercedes-Benz também sempre foi reconhecida pela tração traseira. O Classe A foi uma labuta para ela. Além de ter tração dianteira, algo imaginável por qualquer mercedista em 1995, não era tão confortável e segura quanto os outros modelos de respaldo. Fez relativo sucesso, mas entre quem procurava uma minivan, e não um autêntico Mercedes.

No entanto, em mal comportamento a Porsche é campeã. Os Porsche-VW (914, 924 e 968), feitos em parceria com a Volkswagen, só obtiveram sucesso quando a marca de Ferdinand “assumiu a paternidade”, inserido mais esportividade. Dizem os puristas que não existe 911 pós-1997, quando ele trocou a refrigeração eólica pela líquida. Essas foram as duas primeiras desobediências, mas a maior estava por vir.

Se existiu algum purista doente pela Porsche ele suicidou-se em 2003, no lançamento do Cayenne. É até aceitável uma parceria com a Volkswagen, mas jamais um utilitário esportivo com o mesmo brasão do Boxster. E o investimento nele foi alto, com desenvolvimento de motores V6 e V8, suspensões modernas e alto luxo. O sucesso foi imediato por causa da onda de utilitários que havia na época, mas as críticas foram cruéis com a marca.

Outra mancada foi o Panamera, um quatro-portas. Ao menos é esportivo e sua dianteira se parece com o Carrera GT. E quando tudo está bem, com todos conformados, eis que a Audi dá a “brilhante” idéia de equipar o Cayenne com um Diesel, combustível que nunca moveu um Porsche. Muitos cabelos foram arrancados por isso!

A tração dianteira arranhou um pouco a imagem da Cadillac. Não deve ser nada interessante acelerar o brilhante Northstar e não sentir o impulso das rodas de trás.

Do outro lado do atlântico também houve contrassensos. Da Cadillac foi a tração dianteira, apresentada como demérito nas publicidades da Lincoln, uma concorrente. O motor Diesel também foi motivo de xacoca; não por quebrar tradições, mas por não funcionar direito.

A mesma General Motors (dona da Cadillac) fez o Corvette ZR-1, um Vette com comando no cabeçote, e ressuscitou o Pontiac GTO numa carroceria sóbria, como nunca foi o famoso muscle car.

Um GTO sem Ram Air não é um Pontiac de verdade. Depois de um ano a GM providenciou um capô à altura da antiga lenda.

Muitas dessas “heresias” fazem parte de uma tentativa de ganhar novos mercados para se manter viável. A Porsche cresceu bastante com o Cayenne, o Classe A levou a Mercedes onde ela não estava. Os fizeram o inverso, pois atrapalharam a marca.

Exagero de puristas à parte, é bom que se respeite tradições. Porsche é 911; utilitário de verdade é Land Rover, Ferrari é V8 ou V12, Cadillac e Jaguar têm tração traseira e Small-Block é OHC. Pronto.

3 comentário(s):

VictorHugo disse...

Cara, Parabéns pelo Blog! Muito bem redigido, informativo, criativo! Ganhou um fã!!!
Valew, amigão!

Diego Menezes disse...

Fico muito feliz.

Tudo de bom para você!

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

o cayenne até é bonito, mas o panamera parece uma gambiarra... quanto ao motor a diesel, eu gostei da idéia de equipar a cayenne com um desses, e esses motores evoluíram mais que os a gasolina nos últimos tempos... com relação à traçao dianteira na cadillac, até nao é uma heresia tão grave num carro voltado ao luxo e conforto, pois a dirigibilidade fica mais acessível e é mais fácil de acertar uma suspensão focada na suavidade e até permite a criação de interiores mais espaçosos por não haver elementos da transmissão invadindo espaço interno, embora ainda existam defensores fervorosos da esportividade da tração traseira... num post sobre sistemas de tração em ambulâncias que eu fiz no meu blog cheguei a abordar essa questão da tradição... a propósito: small-block tem que ser ohv, com um único eixo de comando de válvulas no "vale" do v...

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