13 de fev. de 2010

AVALIAÇÃO: FIAT MILLE WAY


Há 26 anos o Fiat Uno foi lançado como um automóvel revolucionário, surpreendente. Moderno diante de Escort, Gol e Chevette, ele era a última palavra em carro popular. E o novo Uno é aquele mesmo produto lançado nos anos 80, mas continua surpreendendo.

Quando o hatch chegou da Itália, em 1984, já era sucesso na Europa. Aqui veio substituir o desgastado, porém simpático, 147. A concorrência brasileira era pequena e ultrapassada; mas muito forte, pois o nome Fiat não tinha o prestígio que tem hoje.

Ao invés de adotar todas as características da versão italiana, a Fiat mineira resolveu fazê-lo como uma repaginação do 147, adotando o mesmo esquema de suspensão traseira e estepe junto ao motor (isso exigiu mudanças nos paralamas e no capô). Mesmo assim, o sucesso foi imediato.

O Fire junto ao estepe

Dez anos depois do lançamento seu substituto estava nas mentes dos engenheiros. Seria o Palio, um dos primeiros projetos para países emergentes. Entretanto, o mercado não quis abandonar aquele carro simples e barato de possuir, mesmo tendo novas opções (além do próprio Palio, havia Gol II, Corsa, Fiesta e importados).

Depois de duas décadas e meia o velho e bom Uno permanece entre os três carros mais vendidos do país. E é por isso que o Meu Amigo de Lata resolveu fazer uma avaliação simples para procurar as qualidades do Uno, ou Mille, como é chamado desde o fim dos anos 90, quando perdeu as versões luxuosas e tornou um carro simples.

Em primeiro lugar, o preço não é bom. Entre 25 e 30 mil há Chevrolet Classic, Volkswagen Gol, Renault Clio, Palio e 206, carros bem mais modernos e bonitos. Portanto, a robustez e a simplicidade mecânica - inerentes ao projeto antigo - são os grandes atrativos.

Avaliando

A avaliação foi feita com dois exemplares: um duas-portas, ano 2008, com vidros e travas elétricos e pacote Way (para dar aparência aventureira); e outro, com quatro portas, ano 2010 (Economy), com vidros e travas elétricos, direção hidráulica, ar-condicionado e pacote Way.

O primeiro a ser avaliado foi o mais antigo. Nota-se logo a dianteira graúda e agressiva, o limpador único, os arcos nos paralamas e a suspensão elevada. A maçaneta embutida, amada por uns e detestada por outros, permanece lá, inalterada. Não é bonita, mas em compensação não é exagerada como a do quatro-portas. Outro detalhe que está há muito tempo é o painel, desde 1994. Volante, bancos, retrovisores e alguns comandos foram renovados há poucos anos.

Maçanetas discretas

Ao volante: O motorzinho Fire (de 2002) é forte e silencioso e o câmbio, comandado por cabos, é macio e agradável. São duas características que alguns nacionais bem recentes não têm. Sem fazer ruídos excessivos, a massa de 850 kg move-se fácil. Os pedais são leves e as trocas de marcha, agradáveis.

O baixo peso contribui para a agilidade única. Alguns carros maiores não têm a mesma disposição e a sensação de controle é evidenciada pela ótima visibilidade, pois há poucos pontos cegos. A altura em relação ao solo possibilita passeios por onde os concorrentes nem chegariam.

Na rodovia o quadro é um pouco diferente. A relação de direção é bem curta e incoerente com a estabilidade do Mille. Ao fazer desvios, o volante deve ser girado com cautela. As curvas mais fechedas assustam um pouco, mas tudo fica sob controle. O ruído interno não incomoda, já que o motor é silencioso e as relações de marcha são longas, sobretudo na versão Economy. Ultrapassagens e ladeiras não constituem problema para o Fire e os faróis são bons para viagens noturnas.

O Econômetro está ao lado esquerdo do velocímetro (em branco)

O painel de instrumentos é moderno e agradável, pois não incomoda em viagens noturnas. O Econômetro, equipamento presente na versão Economy, auxilia na condução econômica, ajudando o proprietário poupar dinheiro. O sobrenome Economy deveria estar no Mille desde muito tempo. Dirigindo tranquilamente em boas rodovias é possível fazer médias superiores a 17,5 km/L.

Segurança: nesse quesito o Mille não é exemplo. Não pode ter bolsas infláveis e nem ABS. Não nasceu para ter isso. As colunas que sustentam o teto são finas e célula de sobrevivência não existe. Mas quem quer bater?

Conforto: outro ponto crítico. A suspensão é rígida, mas compensada pelos pneus de perfil alto. O espaço longitudinal é generoso e tudo está ao alcance, com exceção do rádio, em posição baixa, e às maçanetas internas das portas traseiras, que estão muito recuadas. Os botões do vidro elétrico (só nas portas dianteiras) estão na porta e bem à frente, no endereço certo.

Aparência: do lado de fora tudo é bem interessante. Só a forma de fixação dos vidros denuncia os 26 anos. Por dentro há muita lataria à mostra. Quem não gosta disso compre um na cor grafite.

O habitat do Mille é a cidade

Coisinhas interessantes: banco da versão de duas portas, que vai pra frente além de dobrar; rebatimento do banco traseiro, que deixa o assoalho plano; comando rápido dos vidros manuais; estepe na frente; Econômetro (na versão Economy), que auxilia na condução econômica; comutador do farol que nunca liga em luz alta.

Coisinhas estranhas: bancos pequenos; portas que abrem em pequeno ângulo; consumo irregular dos pneus traseiros.

Mercado: Não importa a versão, o ano ou o estado, o Uno é sempre bom de vender.

Futuro: em breve haverá uma nova geração. A antiga será aposentada pela lei que obriga bolsas infláveis e ABS.




F I C H A T É C N I C A

Motor: tranversal, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindros, 999 cm³, potência de 65 cv (gas.) e 66 cv (alc.) a 6000 rpm e torque de 9,1 m.kgf (gas.) e 9,2 m.kgf a 2500 rpm.

Suspensão: D.: McPherson com molas helicoidais e estabilizador; T.: McPherson com feixe de molas.

Carroceria: Comprimento x Largura x Altura: 3,67 x 1,54 x 1,48. Porta-malas: 270 L. Tanque de combustível: 50 L