15 de set. de 2009

Um estranho mercado


Mais da metade dos brasileiros financia o carro que compra. Isso significa que apenas vinte ou trinta por cento deles pagam o carro à vista. E desde muito tempo o Brasil está entre os dez maiores consumidores de automóveis, e mesmo assim, não tem uma frota moderna.

Esse é o perfil do mercado automotivo brasileiro: veículos simples - para não dizer atrasados - e consumidores sem dinheiro. E são esses consumidores que não têm dinheiro sobrando que fazem com que os carros lançados aqui sejam simples.

Se um cidadão ganha mil reais por mês, não tem poupança e não quer esperar acumular o valor do carros dos seus sonhos a única opção para ele é o financiamento. As menores parcelas estão na faixa dos 250 reais. Sobra para ele 750 para ser gasto com o restante das despesas, que inclui a casa, supermercado, combustível e impostos.

É natural que ele busque um carro econômico e mecanicamente simples, que quando pedir manutenção não desfalque o seu bolso, que só tem dinheiro comprometido. Boa parte dos consumidores de carros novos têm esse perfil.

Por esse motivos que os maiores argumentos dos concessionários é economia em combustível, em manutenção e um bom valor de revenda.

No entanto, o consumidor brasileiro não é como os europeus de classe baixa, que aceitam carros feios. Aqui eles querem beleza junto a todos adjetivos anteriores. Os carros populares, como Classic e Mille, sempre possuem parachoques pintados na cor da carroceria, calotas integrais e já saem da loja com película nos vidros (que além da segurança, causam impressão de "importância"). Os populares maiores tem peças externas cromadas e grandes rodas de alumínio. Embora o carro tenha um motor do século passado, tudo isso é importante para o brasileiro.

Esse fato é bem retratado pelos aventureiros, cheios de peças com fins estéticos que escondem a idade do projeto do veículo e dão muito prestígio aos seus proprietários. Nessa mesma linha surgiram os "produtos de terceiro mundo", de aparência moderna e tecnologia ultrapassada.

A melhor forma de espantar um possível comprador financiará um carro de luxo é dizer que ele é moderno, tem motor evoluído, etc. Um bom exemplo é o Linea T-Jet, o produto mais caro da Fiat. Se o vendedor dizer que ele é 1.4, é turbinado e tem quatro válvulas por cilindro, que tem seis bolsas infláveis e interior bege, GPS, ABS, EBD... o comprador se assusta e passa a discriminar aquele carro "de outro mundo" que só gera despesa e dor de cabeça.

É por isso que os carros simples fazem mais sucesso. A maioria dos carros nacionais andam com tecnologia da década de noventa (e alguns da década de oitenta!). Nenhum consumidor reclama.

Os mais evoluídos vão "vivendo" graças à pequena parte que compra à vista e tem dinheiro para dar manutenção. Os atrasados vão para as mãos dos menos ricos, que e sequer dão manutenção neles - por isso que o carro de passeio movido a diesel não pode chegar ao Brasil, sob o risco que transformar as capitais em lugares insuportáveis.

Enquanto a maioria financiar o carro que compra não teremos produtos recheados de tecnologia. Produto atrasado é só um detalhe da cultura estranha desse estranho país.

1 comentário(s):

Anderson G disse...

Mias um bom texto que retrata a realidade que poucos enxergam.

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