1 de out. de 2010

EXPRESSÃO FACIAL


Texto: Diego M. de Sousa -- Fotos: Divulgação

Querendo ou não o carro se torna um amigo. Nos leva onde queremos, lavamos ele aos domingos e cuidamos dele como se fosse um querido animal de estimação. É involuntária a assciação do carro a um ser com vida.


Sabendo que isso acontece mais com carros populares, (o verdadeiro entusiasta se importa mais com o "comportamento do amigo") os fabricantes tomam cuidado com o aspecto da dianteira e da traseira, para que não fiquem "sérias" demais.

Basta olharmos nas ruas as "carinhas" interessantes. O Chevrolet Classic tem num "rostinho" estreito um aspecto de "satisfação"; o Civic inspira tecnologia e o antigo Fusca, um ar de "velho conhecido".

A Ferrari 458 Italia parece estar sempre de mau humor, carrancuda. Mas foi de propósito, pois os esportivos são agressivos mesmo. É bom entrar na garagem e ver uma cara pretenciosa dizendo: "vamos, temos que impor respeito por essas estradas...".

Algumas outras máquinas buscam a sensualidade. Coisa estranha numa coisa longe de ser mulher. Assim os nós assimilamos nossas paixões: a sensualidade das curvas femininas e as curvas de uma bella carroceria...

Frentes agressivas que denunciam o poder que há por trás da grade (ou lá atrás do motorista), com desaque para a 458 Italia (amarela), o Scirocco (azul) e o Ibiza Bocanegra (branco)

Bem, mas o assunto deste texto é aspecto frontal. Nos primeiros anos de automóveis os carros não tinham expressões. A frente se resumia a uma grade quadrada no centro e um par de faróis circulares suspensos nas extremidades dela. Mal dava para reconhecer qual era o modelo do carro, pois todos eram praticamente iguais.

Quando os paralamas ficaram maiores e os faróis foram instalados neles, começou a preocupação com a aparência, ou sentimento, da dianteira.

Isso porque é o primeiro ângulo observado por quem compra um carro. Mesmo que não consiga enxergar enquanto dirige, o motorista quer causar boa impressão a quem vê sua máquina e também ter um carro "amigável". No entanto, associar expressões humanas a automóveis foi um negócio que começou só nos anos noventa.

Pobres pessoas que foram atropeladas por este Cadillac. Talvez nem resistiram o poder dessas pontas

Nos anos cinquenta os carros de luxo americanos eram exuberantes nas formas e nos detalhes. O parachoque, cheio de reentrâncias e pontas, um modo de mostrar poder e superioridade, era unido à grade, que usava filetes horizontais e verticais bem próximos. Período da “Carne Seca” que a classe rica gostava de oprimir. Os anos quadrados (70) vieram e a inspiração acabou. Havia carros desenhados apenas com régua. Com devidas exceções, foi um período sem graça nos desenhos. O fim da década de 80 marca o surgimento dos carros "futuristas". Nelas a entrada de ar era movida de entre os faróis para abaixo do parachoque, dando um toque tecnológico e ecológico.

Sem grade e/ou faróis cobertos (Citroën SM, Mercury Sable e Alpine A610) passam a sensação de evolução técnica e um enigma

Felizmente a caretice é derrubada pelas marcas européias já nos anos 90. Em 1993 a Renault (as francesas sempre desenham carros alegres) lança o Twingo com uma carinha sorridente, efeito dado pelas linhas dos faróis, que tinha linha superior curva e inferior reta, como num olho ao sorrir.

Carrinhos simpáticos (Citroën DS, Saab 900, Renault Twingo e Kangoo). Os três últimos parecem sorrir

Essa expressão passou a dominar o segmento de entrada, comprado por mulheres e jovens, enquanto os superiores buscavam discrição e certa ligação com a aerodinâmica. As mulheres estavam há tempos no trânsito e influenciando nas pesquisas de mercado e, portanto, tinham importância.

Carros que conquistam as mulheres (500, Beetle e Mazda 3)

Os faróis de todos os carros da época tinham as mesmas linhas básicas (superior curva e inferior reta). Ficou assim até a Ford lançar o estilo New Edge e puxar as extremidades externas – superiores -- e internas – inferiores - dos faróis. O conjunto ótico "puxado" para trás lembra a velocidade e a sensualidade de um olho. Logo, muitos outros carros adotaram o estilo.

À velocidade

E se os faróis são comparados aos olhos, por que não associar a entrada de ar ao sorriso? Foi isso que fizeram. Hoje há carinhas felizes por toda parte, com desque para os Mazdas, que possuem um imensa entrada de ar em forma de sorriso.

Toda categoria agrega alguma expressão. Como foi dito, as básicas são felizes; as luxuosas são discretas; as esportivas são intimidadoras. Não importa a categoria, a frente sempre tem que expressar algo.

A tendência de "bocas grandes" e "olhos puxados"

As formas de se conseguir os efeitos desejados são simples: faróis circulares são nostálgicos e adorados pelas mulheres; a máscara negra neles se agrega personalidade forte e agressividade; os pequenos ou escamoteáveis (em desuso) são enigmáticos e conotam avanço tecnológico; alongados passa a sensação de velocidade; grade com muitos filetes dá sobriedade; aberta dá esportividade e fechada, um toque ecológico; montada de barras verticais mostra valentia; pouco cromo é requinte; muito é resistência; entradas de ar e vincos fortes mostra personalidade e motor potente; frente baixa denota aerodinâmica e alta, poder.

Muito cromo para impor respeito nas ruas e conquistar os brutos

Com esses efeitos a Mercedes-Benz faz os seus elegantes sedãs, a Dodge as suas agressivas picapes, a Jeep os seus destemidos fora-de-estrada e a Ferrari as suas sensuais máquinas. Não seria nada coerente a frente de um Monaro VXR num Corsa; ou vice-versa. Cada carro “expressa um sentimento” de acordo com suas características gosto do seu público.

E para quem acha que isso tudo é bobagem, basta citar dois exemplos nacionais que foram prejudicados pela aparência: a primeira geração do Fiesta nacional e o Fiat Marea. Um era triste - tanto que ganhou o apelido de tristonho - e o outro era invocado demais. A Ford redesenhou depois os faróis do seu hatch, ao estilo New Edge, e a Fiat tirou as máscaras negras dos faróis da linha média, tornando-a mais "amigável".

Para nós, entusiastas, quase alheios às mudanças de estilo e expressões, o que importa é a "beleza interior", que se faz importante nos passeios por estradas sinuosas

 Artigo publicado no dia 18/09/09 e revisado em 01/10/2010

1 comentário(s):

R Botelho disse...

Mto legal essa descriçao!!!!

Acrecentando modelos de minha opiniao, o Celta antigo tem uma frente que lembra caras baixinhos e brigoes... pena a Chevrolet ter alterado pra outro desenho quase sem expressao. O segundo modelo do Clio nacional, com aqueles "olhos esbugalhados", pra mim tinham uma aparencia divertida..
Eu apreciava a frente do primeiro Ford Ka com seus "olhos de tailandesa", pra muitos um carro de gosto duvidoso, pra mim um carro de personalidade.

Complementando a historia, nos anos 50 predominava o "streamline", característica esta de um dos primeiros movimentos da historia da arte e do DESIGN, o ART DECÓ. Apresentava entre outras coisas a junção de linhas curvas e retas e a associação de formas aerodinâmicas inspiradas em avioes e submarinos (pseudo-turbinas na dianteria e os famosos rabo-de-peixe).

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