14 de ago. de 2009

PRAZER EM EXTINÇÃO


Atualmente poucos carros nacionais dão prazer ao motorista. Apesar de o fator prazer ser bem subjetivo, muitos dos carros de hoje são meros meios de transporte.
Um Lotus Elise pode ser considerado inútil perto de um Toyota Aygo ou de um Prius. Entretanto, o carrinho inglês não é apenas mais “um na multidão” de automóveis, e sim um carro capaz de abrir sorrisos no seu motorista. Deixa na boca sempre um gostinho de quero mais.
Tem gente de dá graças a Deus quando chega ao destino depois de longas horas ao volante de um carro mal desenvolvido. Sente até vontade de vomitar quando olha pro carro, o motivo da viagem estressante.
Porque era interessante dirigir um Puma GTE e cansativo dirigir um Volkswagen Brasília? O desconforto do Puma era relevado pela condução distinta dos carros “normais”. Como o hatch não tinha nada de interessante, a única coisa a se fazer era prestar atenção no barulho do motor...
Tem gente que sente prazer ao sentar num banco justo, ter os comandos à mão, um volante direto, uma suspensão rígida e muito barulho (embaralhado de um carburado ou orquestrado de um injetado) para ouvir. Outros querem conforto, silencio a bordo, comandos leves e suaves, suspensão macia...
Só que hoje nenhum carro é totalmente esportivo ou totalmente confortável. O Pálio tem a direção direta que contrasta com a suspensão macia. O Celta é mais durinho, mas tem direção lenta. E se você acha que é porque popular é “feito a machado”, basta olhar o Astra, que tem cara de esportivo: não dá prazer e nem agüenta uma tocada esportiva, pois câmbio e suspensão não ajudam.  
Carro tem que ter personalidade. Costumo dirigir a D10 83 do meu avô paterno, já que ele não dirige (e nunca dirigiu). Sinto prazer, apesar do volante pesado, do barulho ensurdecedor e da vibração que deixa as mãos dormentes. Sem falar nos freios... Mas tem personalidade. Ela é diferente. Ninguém a conduz direito, pois o câmbio seco é um sacrilégio para os novatos. Nas viagens curtas eu sempre prefiro ela ao Gol da minha avó materna.
Recordo-me de três boas experiências com outros carros prazerosos. A primeira foi com um Golf 1.6 do meu tio. Numa pequena voltinha pela cidade deu para perceber que o carro é pra quem gosta de esportividade. Suspensão rígida, pneus de perfil baixo, direção rápida e etc. A outra experiência foi com um Siena 1.6 16 válvulas. Ah, aquele motor tem vida. O carro é meio careta, mas o que encanta mesmo é o motor que depois de certa rotação responde energicamente com uma suavidade ímpar.
A terceira experiência foi com um Corsa Super 1997. Ficava impressionando com o acabamento e a construção daquele carro. Era um popular decente, não como os atuais. Nem gosto de me encostar na porta de um Celta ou um EcoSport, pois a lata sempre afunda.
Hoje todo carro é igual. Faróis grandes, piscas dianteiros próximos à grade (uma tristeza quando não há repetidor lateral), luzes posteriores com formas circulares, lataria frágil demais, et cetera e et cetera. Sem falar na mecânica, que sempre é motor dianteiro, quatro cilindros com duas válvulas cada e tração dianteira. Nada de turbo, tração integral, Diesel ou teto solar.
Antigamente cada marca tinha sua característica. Volkswagen era lembrada pela agilidade dos APs, a Chevrolet pelo conforto de marcha, velocidade final e acabamento interno, a Fiat pela criatividade e economia de combustível e a Ford pela sobriedade, e, em alguns anos, pela esportividade do Escort. Hoje quase não existe mais o cliente fiel porque essas coisas ficaram no passado. Quem só comprava Chevrolet não queria um Ford, como quem compra um BMW não quer um Jaguar.
A piadinha sobre a aparência dos orientais, que são tudo iguais, pode ser usada para os carros nacionais. E não é só na aparência, como o povo oriental, mas no interior, na mecânica.
Ah saudades de Omega, Opala, Maverick, Brasília, Marea, Tempra, 147, Del Rey, Escort, Kadett, Ka (o primeiro) e Fusca. Eram carros diferentes dos concorrentes em vários aspectos. Atualmente ninguém pode ter o prazer de gabar o próprio carro. Que vantagens ele tem em relação aos outros? Será prazeroso acelerar um Corsa 1.8 às seis mil rotações? Fazer uma curva com um Mille? Passar seis horas a 120 km/h num Polo de relações curtas? Evidentemente não, em nenhum dos casos.
Com o setor automotivo crescendo rapidamente é preciso que se resgate a personalidade de cada marca e de cada carro. Se é de construir um carro, por que não fazê-lo para dar prazer ao dono?

2 comentário(s):

Alex disse...

Amigo, eu assino em baixo do que você disse. Concordo em gênero, número e grau. Praticamente tudo que Vc disse aí eu já havia falado aos meu amigos e colegas quando conversávamos sobre carros. Sou fã dos carros da Opel/Chevrolet e possuo há seis anos um Kadett SLE/EFI 1992, e quando dirijo um desses novos modelos, principalmente os ditos populares fico me perguntando: Cadê a graça, a emoção, a qualidade, o acabamento? Se isso não mudar, digo, se esses novos modelos lançados pelas montadoras não começarem a mostrar personalidade, durabilidade e trazer empolgação ao dirigir, vamos ser obrigados, nós que gostamos de verdadeiros carros, a restaurar e conservar nossos velhos e queridos modelos que nos proporcionam tanto prazer ao guiá-los.

Aragaki disse...

Olha eu sou moleque, 19 anos, infelizmente não vivi essa bela época que meu pai me conta quando ele e o amigo davam "rolê", em dois singelos V8, meu avô era dono de um Dart e a vizinha dele era dona de um Charger, que ela emprestava e ainda pagava a gasolina. E hoje meus amigos se emocionam contando de rolês "emocionantíssimos" com peugeot 206 1.4, palio 1.4 e corsa sedan 1.0??? Eu fico muito feliz em ter ganho e conservar um Chevette 93 que se não tem agilidade, tem o desconforto, barulho e os comandos sempre a mão pra me arrancar alguns sorrisos quando a bela tração traseira(algo extinto em populares) as vezes me prega uns sustos, escapando e me fazendo ter que agir pra corrigir trajetória. Alguém acha que a Zafira do meu pai é capaz de me proporcionar emoções como essa?

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