25 de nov. de 2010

Teneré, a volta e as lentes rosas do passado!



Ontem eu sentei na nova Teneré 250 da Yamaha, evidentemente, eu estava "seco" para poder dar uma voltinha nela... mas, parece que a política de test drive das fabricantes atualmente está de certo modo tolhidas por algum motivo (medo de roubo, acidentes potencialmente graves?)

Enfim, mesmo assim, é interessante conferir em três dimensões um produto que está causando um pequeno frisson no mundinho duas rodas. O tamanho da moto, nos faz pensar em algo de maior deslocamento cúbico, tudo veste muito bem para pilotos de estatura média para alta, o acabamento é correto e a vontade que dá é ligar a chave e pegar a próxima vicinal de estrada de chão.



Claro que esta moto, herdando um nome tão poderoso e mítico, pode acontecer de a primeira volta virar uma completa frustração. Temos que usar o bom senso em equacionar todo o enorme fardo esportivo que o nome do deserto africano - imortalizado nas Yamahas - e suas lembranças naturais que irão refletir no novo produto.

As famosas XT's são crias de uma das fases mais empolgantes da marca japonesa, e o ínicios dos grandes raids em deserto. Começou pela XT-500, e logo, como pólvora acesa que se espalha, toda uma categoria de grandes exploradoras do deserto foram criadas. Deus... quem não lembra dos anos 80 - pelo seu final - e da década seguinte dos grandes mamutes das areias? Os protótipos mais malucos, motores quatro cilindros de FZR moendo corrente, relação e pneus nas areias...Gileras 600, enormes Cagivas que deslocavam quase um litro de pura fúria. Claro que hoje podemos encontrar motos civis com a mesma potência e até mais litragem, tudo ali na loja da esquina, mas o espetacular é como essas motos antigas eram utilizadas na pauleira mais pura e pesada. Ver uma Africa Twin 750 emergindo das dunas, deveria ser uma visão tão gloriosa quanto assustadora...



E no meio dessa guerra escaldante, vinham as nossas Tenerés 600 - já obsoletas no Velho Mundo - tendo heróis como Klever Kolber e - principalmente - André Azevedo em esquema privado lutando contra tudo e contra todos. As motos de ponta dividam as areias como Moisés fazia com o mar vermelho andando a velocidades beirando os 200 km/h....e o pior que elas tinham que se cuidar com monstros como Peugeot 205 T16v que vinham planando nas retas ou enormes e surreais caminhões do Leste Europeu que seriam a representação mais pura da irracionalidade e incessante busca de força daqueles anos.

Imaginem nosso heróis com as valentes Tenerés nacionais, singrando em máximas de cento e quarenta quilometros horários em pisos para lá de assustadores, nem Ulisses se atreveria a tanto.

Por isso a Teneré têm uma imagem tão forte, moto de macho mesmo, pronta a dar a volta ao mundo e rir com desprezo dos obstáculo do caminho. Sua herança cultural é algo que nunca se apagará. Mas...sua superlativa fama, agora, há luz de tantos anos depois, podem de certa forma romancear demais as expectativas de uma nova geração de pilotos. Nada contra a nova safra mundial - mundial...olhem bem! - das yamahas com o mesmo nome, mas vamos falar um pouco sobre a famosa Teneré 600, hoje objeto de culto por uma legião de "aventureiros".

Sim, já utilizei bastante uma. Modelo 1988, azul e com as manoplas na mesma cor, isso já foi há doze anos atrás e a moto estava no seu esplendor de conservação. A Teneré era imponente, céus como aquele enorme tanque parecia um luminoso de mulher pelada de tanta atenção que atraía. O barulho simcopado do motor, não pedia...exigia respeito e espaço no trânsito. Você largava a embreagem em primeira marcha, quase sem dar gás, acelerava progressivamente até os 3000 giros e logo em seguida jogava a segunda e girava o acelerador até o final....creeedoo! Só ela tinha aquela patada sólida de torque puro e homogêneo, isso não se traduzia em grandes desempenhos ou acelerações, mas sensações tão francas que sempre te fariam sorrir em um simples cambiada. Força era o nome do jogo, força e barulho...

No entanto, deixando as lentes rosa do passado de lado, devemos reconhecer que ela tinha seus defeitos, ou características como diriam alguns mais fanáticos. A moto vibrava tanto quanto montar em um britador, manter velocidades acima dos 100 km/h era pedir para enformigar mãos e pés. O Titanic azul não gostava de subir muito de giro, trabalhava bem mais a força e a retidão de caráter do motor. As tomadas de curvas eram sempre cuidadosas para inclinar a enorme massa - ainda mais com tanque cheio - e correções só seriam bem sucedidas com pilotos realmente experientes. Claro que é apenas a filosofia básica da moto, mas pode surpreender muitos pilotos novos que pensam apenas em desempenho e agilidade quando pensam na antiga Teneré...essa não é a praia dela.

A bateria não era adequada e podem acreditar, fiquei com uma perna digna de Lou Ferrigno de tanto faze-la ligar com o pedal. O freio a tambor traseiro era uma piada em relação a um moto tão pesada que podia passar dos cento e sessenta reais e a espuma do largo banco, era decidamente bem dura.



Mas... toda vez que eu colocava a jaqueta, a balaclava de lã por debaixo do capacete, e acordava o caneco de chope por debaixo do tanque de petroleiro. Eu me sentia largando para uma especial na África Negra; Gilles Lalay, Peterhansel, Oriol estava ali do meu lado - coitado dos motoboys - esfomeados em encher de som e fúria o deserto. Se eu não era parte do time... a moto com certeza era, e sempre será!

Seja bem vida Teneré 250, não precisa falar grosso como a avó! Mas seja valente....


3 comentário(s):

Mário César Buzian disse...

Desde o seu lançamento em 88 eu tive três Ténéré, uma 1988 branca com faixas vermelhas, uma 1989 azul com amarelo e outra 1992 novamente branca...
Vc. descreveu perfeitamente o que era essa motocicleta, um verdadeiro TRATOR na sua concepção e rodar, mas que delícia...
Espero que a 250 venha a agregar só boas estórias a respeito de suas "tias" mais velhas...
Abração !!

Anônimo disse...

Que inveja Mário, Teneré's diversas (me esbalho nos acentos), dodges V8's....

vamos te largar uma semana de palio 1.0 e biz 100 para desintoxicar...heheh! Abraço

MFFinesse

Anônimo disse...

Essa moto tenenere antiga é muito daoraaaa

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