6 de set. de 2009

Os necessários retoques


Desenhar um carro agradável a todo tipo de consumidor leva muito tempo de pesquisa em clínicas, recolhendo opinião. O carro pronto e, se aprovado durante o período em que era conceito, é sucesso garantido.

Só que chega uma hora que o público consumidor quer novidades. Geralmente isso acontece com três ou quatro anos depois do lançamento. Nos países desenvolvidos é um pouco mais, de seis a oito anos (dez ou doze, como o Ford Ka). A diferença é que naquele continente quase não há reestelizações (redesenhos), mas reformas completas, desde trocar toda a carroceria, aproveitando a plataforma (como aconteceu com o atual Corolla, o Renault Symbol e o Focus americano), ou todo o conjunto.

Por motivos de redução de custos aqui no Brasil há, desde muito tempo, a reestelização de algumas partes externas e/ou internas. Se troca parachoque dianteiro, faróis, pisca, grade, paralamas e capô. Ou as vezes a mudança é em só destes itens. Em alguns casos há apenas na traseira também (ou só nela), como mudança no esquema de luzes da lanterna, no parachoque, posição da placa de identificação (tampa ao parachoque ou deste à tampa) e vigia. Noutros há, junto com as modificações externas ou não, mudança de painel, volante, padrão dos bancos, etc.

A primeira reestelização nacional que se tem notícia - em um carro - ocorreu no Chevrolet Opala, em 1975. Depois de sete anos de mercado ele recebeu uma nova grade, menos sóbria, e teve os piscas dianteiros deslocados da parte inferior para o lado externo do farol. Na traseira o par de lanternas quadradas foram substituídas por dois pares circulares.

Além de ser uma forma de incentivar o proprietário do modelo antigo trocar pelo novo, é uma atualização de acordo com as mudanças de estilo. No caso do Opala ele deixou a sobriedade um pouco de lado, adotando certa esportividade, aprecidada pelos brasileiros.

Muitos outros fabricantes, de carros e motos, seguiram o caminho da Chevrolet. O Ford Galaxie foi modificado em 76, se transformando em Landau; o Fusca recebeu lanternas maiores (apelidadas de Fafá, em alusão aos seios da cantora Fafá de Belém); o Passat passou de um par de faróis circulares para dois, depois para dois pares quadrados, o Del Rey trocou a frente antiquada por uma moderna e "feliz", enfim.

Na área de motos a Honda fez muitas mudanças simples no seu best-seller, a CG. De tempos em tempos ela trocava lanternas, algumas carcaças, adesivos, painel, paralama. Isso foi até 1999, quando houve uma reforma completa. Como não tinha um concorrente forte dentro do período de vinte anos a Honda ia "empurrando com a barriga", até a Yamaha lançar a YBR, bem evoluída e ameaçadora. Depois disso a marca das asas passou a lançar uma nova a cada quatro anos!

Essas mudanças sutis são muito bem-vindas pelo consumidor, que gosta de ser percebido como moderno e que comprou o último lançamento, uma característica típica de ianques dos anos cinquenta. Quem é que gosta de comprar um carro caro que parece com aquele dez anos mais velho?

E não somente como usada atualização, a reetelização serve de socorro para alguns carros. O primeiro Fiesta nacional tinha um aspecto dianteiro triste, característica repugnada por qualquer pessoa. Antes que o projeto Fiesta virasse prejuízo e mico a Ford fez uma nova frente, trocando todo o conjunto, instalando límpidos faróis "alegres". O mesmo fez a Fiat na traseira do Marea, o seu ponto mais crítico. Era muito sem-graça, meio carrancuda. A marca italiana encontrou na sua prateleira de peças uma belas lanterna, utilizada num Lancia, e instalou ela no Marea. Deu-lhe um ar de modernidade, apesar de ainda ter ficado "com cara de mau", o que não é bom. As duas marcas tentaram salvar os modelos tiveram a má sorte de nascerem estranhos.

A Volkwagen lançou o Gol 2/2 (conhecido como G3) para anunciar que os problemas crônicos daquela geração estavam eliminados. Não era um carro totalmente novo, mas salvou a imagem do Gol e vendeu muito mais.

No entanto, o fabricante deve ser comedido. O Opala e o Uno são os carros que permaneceram mais tempo em produção recebendo só retoques. Foram 24 anos para o Chevrolet e, até o momento, 25 para o Fiat. O ciclo de vida de uma carroceria não pode passar de dez anos, no máximo. Surgem novas técnicas de aproveitamento de espaço e novas tendências de formas que devem ser adotadas.

É preferível o gosto europeu, que passa muito tempo sem mudanças desnecessárias, ao brasileiro. Assim se pode economizar para dar um passo maior, acrescentando novos itens a um produto totalmente novo, na nova geração.

Claro que os retoques sempre serão necessários. Bom se fossem a cada ano!

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